Cada vez mais o nosso quotidiano é invadido por uma componente internacional e, consequentemente, de relacionamento com outras culturas. Portugal é um país pequeno e periférico, mas com profissionais de grande mérito e valor, o que fez com que ao longo da nossa história os portugueses procurassem, pelo mundo fora, diferentes e novas oportunidades. Atualmente, o contexto não é diferente, bem pelo contrário: negociar lá fora é a alternativa para muitas organizações.
Ao estabelecer contactos com parceiros, visitantes oriundos de outras nações, cumpre ao responsável pelo projeto e a todos os envolvidos assegurar que se oferece um tratamento diferenciado.
Para tal é fundamental que se elabore um estudo com vários elementos: perfil do convidado(s), dados sobre o país de origem, informação sobre a cultura, tentar perceber qual é a religião, a estratégia de negociação e, claro, estar disponível para se ajustar aos diferentes desafios que irão surgir.
A questão da pontualidade é um aspeto negativo quase sempre apontado aos portugueses. Esta é a primeira dificuldade com que os gestores se deparam, quando viajam têm que interpretar a atitude de cada povo, em relação ao tempo.
É sabido que a forma descontraída como os portugueses gerem (muitas vezes) a agenda, não funciona em muitos dos contextos internacionais. A maneira como se encara a passagem do tempo tem geralmente uma grande importância, porque a cultura de origem e a do país que se visita pode ser antagónica a uma má gestão do tempo. É interessantíssimo analisar as variações que existem no mesmo continente e até em países geograficamente próximos, note-se como exemplo as exigências e o rigor dos alemães, austríacos e suíços, em comparação com o à vontade do relógio, de certas regiões italianas. Também, no mesmo hemisfério, a situação se repete: as diversidades de comportamento em relação ao tempo entre o México e os Estados Unidos da América são inúmeras.
Existem vários comportamentos face à forma como tempo é usado e até vivido. Há culturas que têm uma visão linear do conceito e o priorizam. Estas são as que designamos de culturas monocrónicas. Por outro lado, temos as que são mais flexíveis, e que são chamadas de policrónicas. E ainda temos aquelas culturas em que o tempo é designado de circular.
Considerando que um dos continentes ainda na mente do gestor português é o africano, pense duas vezes ao estruturar a sua equipa. Se quer levar a cabo um projeto em África onde precisa integrar no mesmo grupo um português, um chinês, um italiano, um alemão e um japonês, este vai certamente sofrer vários reveses. Além das questões do tempo, não podem ser esquecidas as variantes religiosas e culturais.
Para as culturas monocrónicas – exemplo Alemanha, Áustria, Estados Unidos da América, países Escandinavos, Suíça e Reino Unido -, o tempo é um bem precioso e não pode ser desperdiçado, gasto ao acaso, em esperas infinitas e tantas vezes injustificadas. Estes povos têm uma verdadeira obsessão pelo controlo das horas e consequentemente da respetiva agenda de trabalho. Esta rigidez com o cumprir de horários é uma atitude que lhes transmite segurança já que detestam atrasos; a ordem de trabalhos é para ser cumprida e de forma sequencial. Há, também, a tendência para não misturarem temas de trabalho com a família – forma de estar que é muito diferente da de um africano.
As culturas em que o tempo é flexível estão focadas no presente e não no futuro, contrariamente às anteriores. Estes povos não apreciam o controlo do tempo, desempenham várias atividades em simultâneo e, com relativa frequência, as relações pessoais tendem a captar muita da atenção do indivíduo – particularidade marcante, por exemplo, na América Latina. Esta informação é muito pertinente para quem pretenda trabalhar, por exemplo, no Brasil.
Claro que, quem implementa como estilo de vida uma atitude “elástica” do tempo, considera tedioso e desprovido de interesse, todos aqueles quem vivem focados no cumprimento de horários e dos prazos!
A esta altura impõe-se a pergunta: “em que grupo os portugueses se inserem?”. A resposta, obviamente não pode ser exata pois em nenhum país se pode atribuir a toda população um único tipo de comportamento. Uma parte significativa dos portugueses é policrónica. Mas não estamos sozinhos no grupo! A par do nosso país está a vizinha Espanha, a Itália, a Grécia, alguns países Árabes e uma parte dos Sul-americanos.
Há ainda as culturas que encaram o tempo como cíclico. Os povos africanos, alguns asiáticos e as culturas nativas americanas. O homem não tem controlo sobre o tempo, quem o controla é o ciclo da vida. Acreditam que a lógica não é linear – causa e efeito. As transações processam-se de forma diferente e a tomada de decisão não só não é imediata como nos Estados Unidos da América como, também, não é feita de forma isolada. Precisam de tempo para refletir antes de se comprometerem. Outra curiosidade é o facto de algumas destas culturas terem uma preocupação efetiva com a pontualidade, mas por questões de educação.
Susana de Salazar Casanova