Aspetos de uma negociação na Índia

O estilo de vida indiano é bem diferente do ocidental ao qual estamos acostumados. A integração será o primeiro passo que um gestor deve dar, a par dos ajustes ao conceito especial do tempo e da complexa burocracia.
A melhor época do ano para viajar em trabalho situa-se entre outubro e abril (altura propícia em termos climatéricos). É imprescindível a consulta do calendário de festividades antes de se pensar na viagem e diligenciar a marcação de reuniões; os feriados variam de ano para ano e não se realizam encontros em datas religiosas – que são inúmeras.
A maioria das cidades tem um movimento frenético, um trânsito complexo e ímpar com a constante interseção entre viaturas e rickshaws, à qual acrescem ruas repletas de pessoas numa imensa mistura de culturas.
Negociar com este povo não é tarefa fácil para quem não tenha conhecimentos do país e da diversidade cultural. Aconselha-se uma viagem exploratória antes de se estabelecerem relacionamentos profissionais e a contratação de um agente comercial local, já que estes contribuem na descodificação das particularidades que abrangem a negociação. As tradições estão sempre presentes e a rede de contactos é fundamental: estreitar relacionamentos e fazer amizades é relevante.
Na base da estrutura empresarial é comum a presença de empresas públicas, bem como familiares. Ambas têm um peso forte na economia e um vasto número de áreas comerciais. A cultura é predominantemente coletiva o que significa que as decisões devem estar de acordo com a opinião da família, do grupo ou da estrutura social.
As crenças religiosas estão sempre presentes e a passividade é uma virtude, o que causa imensas dificuldades para alguns povos, por exemplo a norte-americanos, para quem time is money. Ao longo da negociação é preciso estar-se alerta e não aceitar a primeira oferta mas sim a segunda ou terceira: não renegociar é tido como um insulto.
As hierarquias estão bastante marcadas e as decisões são tomadas ao mais alto nível, pelo que é necessário atentar à classe social e à casta do parceiro. Um indiano procederá a um rigoroso interrogatório sobre estes temas, nomeadamente sobre a família, para perceber se a pessoa é ou não confiável. É comum o encontro culminar numa refeição. Bons temas de conversa são: história do país, o desporto nacional, cinema e Bollywood, arte ou literatura.
Tal como noutras partes do globo, há certos aspetos que são considerados tabu: em público não se deve tocar afetivamente em pessoas de sexos diferentes; fazer uma festa na cabeça de uma criança é um gesto natural, mas abstenha-se de o fazer porque é uma ofensa – a cabeça é o lugar da alma; as orelhas são sagradas, pelo que puxar as orelhas é uma afronta; o gesto de chamar um terceiro com o dedo é tido como insultuoso. Anote ainda que, para apontar deve usar o queixo e não o indicador e jamais o faça com o pé porque este é considerado “sujo”. Na eventualidade de tocar com o seu sapato noutra pessoa, lamente de imediato.
Susana de Salazar Casanova

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