No nosso quotidiano, com alguma regularidade, sente-se uma certa incerteza face a questões de formalidade ou um certo desconforto face a comportamentos de excessiva proximidade no trato. É um assunto pertinente e que não se restringe às formas de tratamento – uso do tu ou da terceira pessoa -, englobando vários aspetos comunicacionais.
As dúvidas normalmente aparecem quando se fazem novos contactos em ambientes tidos como flexíveis ou quando se estreitam laços entre pessoas pela proximidade ou pela continuidade da atividade profissional. Esta dificuldade adensa-se quando estamos fora do nosso meio profissional usual. E muito em particular, quando estamos fora do nosso país, porque as diferenças culturais podem tornar a decisão de formalidade mais complexa.
As diferenças no trato, tu ou terceira pessoa, primeiro nome ou apelido, título académico ou não, são muito variadas quando nos deslocamos de norte para sul, do litoral para o interior e claro, da Europa para África ou ainda para a América do Norte. Por exemplo, é expectável um trato formal em África porque isso demonstra a importância do interlocutor; mas nos Estados Unidos da América, especialmente na costa Oeste, é esperado um trato mais informal. Contudo, um trato mais informal, não implica que se trate um CEO acabado de conhecer como se fosse amigo de liceu de longa data. Em caso de dúvida, aguarde que seja o interlocutor a dar-lhe indicações de quando poderá ter um relacionamento mais próximo.
Isto é sobretudo muito importante quando se lida com pessoas de culturas onde incorreções desta natureza podem causar graves embaraços. Em várias das culturas asiáticas, por exemplo na Coreia do Sul, é considerado humilhante ser-se corrigido publicamente. Portanto, o seu interlocutor dificilmente o corrigirá se utilizar a forma de tratamento errada, por motivos de cortesia. No entanto, outras pessoas presentes aperceber-se-ão do seu erro e isso reduzirá a sua credibilidade.
A sensibilidade que se tem ou não para este tema revela conhecimento e saber estar. Considere como regra geral que, na ausência de informação, no trato verbal se deve optar sempre pelo tratamento mais formal a que a pessoa tem direito (mediante o seu estatuto). Este tratamento deve ser mantido até que a pessoa de maior estatuto tenha abordado o tema. Ou seja, o facto de estarmos na quarta reunião com a mesma pessoa não significa que a possamos passar a tratar por tu ou deixar cair o título académico.
Por fim, considere que tudo o que tem impacto na nossa imagem profissional é importante. A formalidade integra a vida profissional e a informalidade, por norma, a vida pessoal. Um bom executante deve saber diferenciar os dois casos.
Susana de Salazar Casanova